23.6.10

O trabalho em pequenos grupos

Um grupo é constituído de diferentes pessoas que se movimentam em torno de necessidades comuns em busca de um objetivo específico. Nesta busca troca-se o "sentar junto", numa forma espacial, por ser membro participante e um grupo. Isto é, assumir-se como participante, exercendo sua fala, sua opinião, seu silêncio e defendendo seus pontos de vista.

Num grupo, mesmo que todos os membros estejam em busca de um objetivo comum, cada um é um ser diferente, tendo sua própria identidade. É nessa prática diferenciada que cada sujeito vai projetando o Outro dentro de si.

Segundo Wallon, o indivíduo é um ser geneticamente social: "Somos gente porque somos habitados por um Outro, que é gerado no pertencimento a grupos. O Outro é a nossa identidade, criado porque dispomos de um sistema de representação". São as experiências grupais com os outros que dão vida e consistência ao Outro que nos faz pessoa.

Desmistificando o trabalho em grupo como algo que objetiva apenas a socialização, enfrentamos um desafio maior que é a "construção do grupo" e sua real função no processo de aprendizagem.

Em minha turma o processo de construção dos grupos ocorreu a partir do embasamento da proposta de formação de "grupos áulicos", elaboradas pelo GEEMPA.

Após um pequeno período quando as crianças tiveram a oportunidade de agrupar-se livremente, para um primeiro conhecimento social, foi proposta a formação de grupos diferentes e permanentes por um determinado período.

Discutimos então, o papel do chefe de grupo, uma vez que este é um elemento importante que coordena o grupo sem exercer autoritarismo.

Normas como estas caracterizam para as crianças a função de chefe do grupo:

"- Não mandar nos outros e nem brigar."

"- Cuidar que um grupo não fale muito alto para não atrapalhar os outros."

"- Ser amigo de todos."

Partimos então para a escolha dos chefes dos grupos. Foi realizada uma votação oralmente, em que eu servi de escriba para os alunos, escrevendo os nomes dos votados e quantidade de votos no quadro. Cada um escolheu aquele colega que gostaria que fosse o chefe de seu grupo. Sabe-se que nessa faixa etária, a afetividade está bastante presente, e que a criança ainda não tem critérios estabelecidos sobre perfil de chefe de grupo, apesar de ter sido trabalhado. Sendo assim, suas escolhas na maioria das vezes recai em alguém com quem se relacione melhor em sala de aula.

Dando continuidade ao processo, após todos votarem, fizemos a contagem. Os alunos mais votados, na verdade os cinco mais votados (formamos 5 grupos de 5 alunos) escolheram entre os demais, aquele que gostariam que pertencesse ao grupo.

A escolha continuou agora em duplas, e assim sucessivamente.

É interessante como as crianças surpreendem! Na lógica do professor, os alunos iriam aceitar o convite de participação. Entretanto, houve crianças que disseram não a alguns convites, preferindo participar de outro grupo. É o exercício da democracia e da livre escolha acontecendo.

Grupos formados, a tarefa seguinte é a escolha dos nomes dos grupos. Entusiasmadas, chegam a um acordo e expressam a todos o nome do grupo e o porquê da escolha:

- Grupo Ben10 – porque é nosso desenho favorito;

- Grupo Coração – o coração é bonito e é nossa vida;

- Grupo Poderosas – porque somos fãs da Meninas Super Poderosas;

- Grupo do Grêmio – porque somos todos gremistas;

- Grupo Amizade – porque somos todos amigos;

Os grupos não são estáticos, ao longo do ano letivo, ocorrem novas eleições.

O trabalho em grupo possibilita que cada criança com sua individualidade, pertença a um coletivo, no qual tem um papel a desempenhar.

É através do diálogo, da socialização do saber e das trocas que se dá a aprendizagem.

16.6.10

Reconstruindo o papel do livro de histórias

Meu projeto de estágio está baseado principalmente na leitura e exploração de livros de literatura infantil.

Ler e contar histórias são atividades sempre presentes em meu trabalho enquanto professora. Enquanto lemos uma história, do interesse da criança podemos perceber como ela fica atenta e solicita que a contemos diversas vezes.

Esse encantamento pelas histórias justifica-se pelo fato de que as crianças vivenciam sentimentos e emoções passadas através das personagens. Os contos de fadas têm a peculiaridade de transportar as crianças para um universo fantástico e, assim, tratar conflitos relacionados com abandono, competitividade, insegurança, medo, etc., trazendo sempre uma solução no final. Também, através das histórias, as crianças ampliam seus conhecimentos, pois seu enredo trata formas diferentes de pensar, agir e ser.

A literatura infantil deve proporcionar à criança acesso àquilo que é significativo para ela neste estágio do desenvolvimento. Portanto, uma história deve: "estimular a imaginação, ajudá-la a desenvolver seu intelecto e aspirações; reconhecer plenamente suas dificuldades e, ao mesmo tempo, sugerir solução para os problemas que a perturbam" (BETTELHEIM, 1979).

Estes aspectos contribuem significativamente para o desenvolvimento infantil. Entretanto, há outro aspecto a ser considerado: o desenvolvimento da linguagem e da alfabetização a partir dos livros de história.

As histórias podem ser contadas ou lidas de diversas maneiras: oralmente; através de montagem com gravuras; com teatro de bonecos; através de "cineminha",...

Contudo, se quisermos desenvolver a linguagem escrita, é necessário que utilizemos o livro de histórias, lendo-o em voz alta para as crianças. É lendo que permitiremos que as crianças identifiquem a palavra escrita e descubram que se lê nas letras e não nos desenhos, como é sua hipótese inicial. Além disso, a leitura de histórias permite que as crianças diferenciem a linguagem falada da escrita.

A leitura não é apenas um hábito ou uma técnica, mas uma construção do sujeito que aprende, envolvendo seus desejos, sua inteligência, sua cultura, etc.

Referências:

BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fada. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.